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Em entrevista ao Jornal da USP, professor Pedro Luiz Côrtes enfatiza as consequências da demora do Brasil em se posicionar frente à crise do coronavírus
A pandemia de coronavírus já infectou mais de 2.500 pessoas e causou mais de 50 mortes no Brasil, sendo 48 só no estado de São Paulo. Em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, o médico Sidney Klajner, presidente do Hospital Albert Einstein, prevê que o pico de contaminação de covid-19 deve ocorrer no início do mês de abril. Alvo de recentes embates entre o governo federal e os governos estaduais, as medidas de enfrentamento à doença ainda se mostram ineficientes, tendo em vista os poucos testes realizados e a velocidade com que o vírus se espalha por todo o país. Analisando a situação em entrevista para o Jornal da USP, Pedro Luiz Côrtes, professor do Departamento de Informação e Cultura (CBD) e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente (IEE), adverte que as competências governamentais falharam em planejar tão tardiamente a adaptação à crise epidêmica. A responsabilidade para um bom planejamento não se restringe ao governo federal. Os governos estaduais e municipais, em conjunto com o federal, poderiam ter adotado medidas preventivas que presumiriam três cenários, segundo o docente: “um mais brando; onde essa doença não teria uma abrangência tão significativa; um cenário mediano e outro mais intenso, onde esse tipo de situação se agravaria”. Com isso, um cálculo dos recursos necessários – como mais leitos nos hospitais para atender a grande demanda de infectados – seria mais facilmente resolvida. Além do cuidado fundamental com a saúde pública, Côrtes defende a adoção de medidas no setor econômico. Uma parcela significativa da população brasileira trabalha de modo informal, isto é, não possui carteira assinada e portanto não tem acesso a benefícios e seguridade social, direitos que resguardam o trabalhador em períodos de crise. Vale lembrar que o Brasil, nos últimos anos, foi um grande incentivador do empreendedorismo, sendo necessário que medidas de apoio financeiro à pequenas e médias empresas sejam implementadas para garantir a sobrevivência das próprias, bem como a manutenção dos empregos gerados por elas. Por fim, o professor destaca as sequelas sociais e econômicas que as medidas tardias de prevenção à doença deixarão no Brasil, como é o caso do aumento do desemprego. “Esse ano nós teremos uma recessão e a gente só vai ter condições de se recuperar das consequências sociais e econômicas dessa falta de planejamento só a partir do próximo ano [...], então nós pagamos o preço pelo fato de termos assistido um filme do que acontecia em outros países, mas não termos tomado as devidas providências com a antecedência necessária para que a gente se preparasse para um evento que, fatalmente, ocorreria”. Para ouvir a entrevista na íntegra, acesse o site do Jornal da USP.
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